quarta-feira, 21 de outubro de 2015

I Parada LGBT de Anicuns



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O GDA (Grupo da Diversidade LGBT de Anápolis) realizou neste domingo, 11/10, a I Parada do Orgulho LGBT de Anicuns. A atividade foi uma parceria com as ONG APOGLBT-GO, ACDH-A e UJS.

Que você, leitor, nos permita a licença poética. Hoje, ao invés do tom jornalístico de nossas coberturas vamos adotar o tom da crônica, pois uma parada tão encantadora como foi a de Anicuns não pode ser narrada com o tom formal de uma matéria jornalística.

Anicuns é uma cidade de vinte e poucos mil habitantes, logo não se poderia esperar multidões como em Aparecida de Goiânia ou Goiânia. Mas, o que mais chamou a atenção nesta parada foi o envolvimento das pessoas. Quando a equipe da capital chegou para iniciar os trabalhos, logo na entrada da cidade já foi recebida por um grupo de LGBT, formado principalmente por travestis, que estavam ali prontas para ajudar. Com tamanho empenho, a estrutura foi rapidamente montada. Mas esta não era a única demonstração de cordialidade: por volta das dez horas da manhã, as anfitriãs preparam um lanche para a equipe que estava trabalhando na montagem e um pouco mais tarde foi servido um almoço. E nada disso foi articulado por órgão público ou instituição, mas partiu da iniciativa dos próprios LGBT da cidade, que mais tarde cederam suas casas para que a equipe de Goiânia tomasse banho e se preparasse para o evento.

A parada começou tímida, pois havia um receio geral na cidade do que haveria de ser essa tal “parada gay”. A ideia que os habitantes tinham na cabeça, segundo relataram, era daqueles eventos gigantescos dos grandes centros; dos tumultos que “certamente aconteceriam” e, principalmente, dos excessos como cenas de nudez ou afrontas religiosas. Felizmente nada disso aconteceu. A Polícia Militar, muito solícita e prestativa, não registrou uma única ocorrência. Os religiosos, que faziam um culto no trajeto da parada, aplaudiram os manifestantes pela atitude educada de desligar o som do trio durante a passagem em frente ao templo. Ao que os LGBT retribuíram com outra salva de palmas.

Quem quebrou o gelo foi mesmo o pessoal da excursão de Goiânia, que chegou cantando e entoando gritos de ordem do movimento. Aos poucos a população foi se aproximando e como se pode ver nas fotos, muitas famílias, idosos e crianças se juntaram ao grupo para assistir às apresentações dos DJs, Drag Queens, Gogo boys e principalmente da Rainha das Paradas da APOGLBT-GO, Thayná Moura, que arrancou efusivos aplausos dos presentes.

Também chamou a atenção a “Tenda da Prevenção” montada pelas funcionárias da Secretaria Municipal de Saúde. Poucas vezes se viu em uma parada LGBT uma tenda tão bem decorada, com tamanho bom gosto. Mas o principal era a sua função: distribuir preservativos, materiais informativos e orientar o público a respeito da prevenção das DST/AIDS.

Por volta das dezoito horas, o grupo saiu em passeata pelas principais avenidas da cidade. Aquelas pessoas tímidas, temerosas de serem vistas em um evento dessa natureza e que não tiveram coragem de ir ao local da concentração, não resistiram e se postaram nas calçadas para ver o cortejo passar. Sentadas, confortavelmente em suas cadeiras, como é comum nas cidades calmas do interior. Alguns motoristas e motociclistas incrementaram a carreata com o som de suas buzinas, chamando ainda mais a atenção dos moradores. Por onde o grupo passava, era saudado pelas pessoas nas calçadas. De resto, até um grupo de cães acompanhou a passeata. O percurso teve cerca de três quilômetros e terminou no local de partida, com todos querendo um pouco mais daquela manifestação política que mais pareceu uma confraternização entre amigos.

Enfim, a I Parada LGBT de Anicuns cumpriu a sua finalidade, que era a de levar as ações de prevenção das DST/AIDS até as pequenas cidades do interior, pois segundo dados do Ministério da Saúde, uma das constatações que mais preocupam é o avanço dessas endemias em áreas interioranas. Por outro lado, como o tema da parada já dizia, “é preciso conhecer para respeitar”, ou seja, a comunidade local teve a oportunidade de ter um contato mais próximo com a cultura LGBT e suas reivindicações em matérias como direitos humanos e cidadania. O que se espera é que agora essa comunidade tenha um outro olhar a respeito da questão LGBT. E a julgar pelas manifestações positivas, pela boa impressão causada pelas pessoas que participaram da parada, não é exagero afirmar que na simpática cidade de Anicuns, não ficaremos apenas na primeira parada, mas teremos a segunda, a terceira e muitas outras. Como afirmou Francisco Mendes, coordenador do evento, “quantidade não é qualidade e a parada de Anicuns se destacou justamente por ser uma parada politizada, que contou com o envolvimento da comunidade. Isso sim, é muito importante.” Vale lembrar que a primeira parada de Goiânia, em 1997, reuniu apenas 09 (nove) manifestantes e cerca de 20 (vinte) policiais! A julgar por essa comparação, a I Parada de Anicuns foi um sucesso!

O GDA e as ONG parceiras agradecem à Polícia Militar, SAMU, Secretaria Municipal de Saúde, Rádio Anicuns FM, aos militantes, aos artistas, aos LGBT locais, a todos os participantes e à toda à comunidade anicuense, que ajudaram a fazer da I Parada LGBT de Anicuns um ‘grande’ evento.


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